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Professor de Língua Portuguesa na Rede Estadual de Ensino - Governo do Paraná

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Agronegócio - Conexão China

Edilson de Freitas/Gazeta do Povo /
Expedição Safra

Conexão China

Ligação do agronegócio com a economia chinesa põe Brasil numa posição privilegiada em época de crise nos Estados Unidos e na Europa. Para o gigante asiático, lavouras brasileiras são fundamentais
Numa época em que a economia mundial tenta pegar carona no crescimento da China para atravessar a crise que afeta Estados Unidos e União Europeia, a relação entre o agronegócio brasileiro e o consumo chinês garante assento privilegiado ao Brasil na locomotiva do desenvolvimento globalizado. O mercado de alimentos deve ser pouco afetado pela redução no crescimento do gigante asiático, que não tem como ampliar a produção de grãos por falta de áreas produtivas e limitações tecnológicas, apurou a Expedição Safra Gazeta do Povo, em viagem de dez dias pelo país.
Ainda há muito espaço para ampliação das relações entre os dois países. Com 10% do comércio mundial, a nação mais populosa do mundo importou o equivalente a US$ 1,74 trilhão em 2011. E, apesar de ter feito da China seu principal cliente, o Brasil exportou ao parceiro comercial apenas US$ 44,3 bilhões no período – ou seja, 17,3% de suas vendas, mas somente 2,5% do que os chineses compram. Esses porcentuais tendem a aumentar, mesmo com o crescimento do PIB chinês rebaixado da casa de 10% (média dos últimos cinco anos) para a de 8% (prevista para 2012).
José Rocher/ Gazeta do Povo
José Rocher/ Gazeta do Povo / Os agricul- tores Zhu Xiang e Qiang Iun, no cabo da enxada, em plantação de soja Ampliar imagem
Os agricul- tores Zhu Xiang e Qiang Iun, no cabo da enxada, em plantação de soja
Perseverança fomenta o campo
Na região agrícola da China que mais produz soja e milho, o Nordeste, a atividade ainda depende da força dos trabalhadores que limpam as lavouras com enxadas e espalham as sementes no solo com as próprias mãos. Sem o uso de tecnologias comuns nos países exportadores de grãos, pequenos lotes cultivados com capricho rendem 190 milhões de toneladas do cereal e 13 milhões de toneladas da oleaginosa por temporada, mas com muito esforço.
O volume é 60% maior que o colhido no Brasil nessas duas culturas, graças ao uso de uma área com tamanho dobrado para o cereal. Com maquinário, biotecnologia ou plantio direto, o rendimento poderia ser bem maior. Em áreas equivalentes, os agricultores brasileiros colhem 70% mais soja e os norte-americanos obtêm 80% mais milho.
Uma série de fatores impede a adoção dessas tecnologias. As terras são coletivas e cada trabalhador rural tem direito a explorar cerca de um hectare, área equivalente a um campo de futebol. Por si só, esse sistema dificulta a escala e limita a produtividade.
Outra questão crucial é o inverno rigoroso. As lavouras da região de Harbin ficam cobertas com até um metro de neve durante o inverno, influência da Sibéria. Agricultores como Zhu Xiang e Qiang Iun amontoam a palha do milho para queimar na estação fria. Se ficasse no solo, a palhada atrapalharia o trabalho com as enxadas, necessário ao controle das plantas daninhas no cultivo de sementes convencionais – que não permitem o uso de herbicida na fase emergencial.
Com 20% da população do planeta, a China detém só 7% da produção agrícola mundial. Essa diferença mostra por que o trabalho no campo é tão importante no país. Para ajudar a alimentar a população crescente, os agricultores retiram de 160 milhões de hectares cerca de 500 milhões de toneladas de alimentos. Milho, soja, arroz e trigo rendem 460 milhões (t) – 2,9 vezes a produção brasileira total de grãos.
A soja não é mais o único produto de interesse dos chineses. Enquanto a Expedição percorria a China, Beijing apresentou ao governo brasileiro protocolo que abre as portas do país também ao milho. O documento deve ser assinado neste mês durante a Conferência das Nações Unidas sobre De­­senvolvimento Sustentável, a Rio+20, conforme Brasília, garantindo um cliente de peso para as cerca de 12 milhões de toneladas do cereal que terão de ser remetidas ao mercado externo devido ao crescimento da produção de inverno.
Apetite
O interesse chinês pela importação de soja e milho – ingredientes das rações animais que se complementam – vem crescendo à medida que o poder de compra da população chinesa permite aumento no consumo de proteína. As importações da oleaginosa passaram da casa de 40 milhões para a de 60 milhões de toneladas por temporada em apenas cinco anos, um avanço de 50%. As do cereal, que eram insignificantes até três anos atrás, devem atingir 7 milhões de toneladas nesta temporada.
As expectativas dos exportadores vão bem além disso. “A China precisa de 20 milhões de toneladas de milho para repor seus estoques”, aponta o presidente-executivo da Associação Brasileira dos Produtores (Abramilho), Alysson Paolinelli.
Além de crescer a passos largos, a taxas entre 7% e 11% ao ano, o mercado de carnes chinês é vasto pela própria concentração de 1,35 bilhão de pessoas no país. Os chineses consomem atualmente 52,6 quilos de carne por ano, pouco mais da metade da marca de 100 quilos per capita registrados no Brasil, conforme números de 2011. O Paraná, maior produtor brasileiro de frango, teria de dobrar suas marcas para fornecer um quilo a mais de frango por habitante da nação asiática. Os compradores chineses estão ampliando negócios e figuram entre os principais clientes da avicultura do estado.
As processadoras de soja da China, porta de entrada da produção da América do Sul, operam ociosas e podem dobrar o esmagamento, que na última temporada chegou a 59 milhões de toneladas – apenas 3 milhões (t) além do volume importado. Principal elo entre o Brasil e o maior importador do grão do planeta, a oleaginosa é nosso cartão de visitas, cuja apresentação é obrigatória para uma boa relação com o mundo chinês.

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